DOENÇA DE WILSON

 

 

 

A Doença de Wilson (DW), ou degeneração hepatolenticular, é uma anomalia hereditária autossômica-recessiva caracterizada causado pela mutação de gene ATP7B que leva ao acúmulo de cobre no organismo. A ATP7B é responsável pelo transporte do cobre a partir de proteínas intracelulares na via secretora, para a excreção biliar e para a incorporação na apoceruloplasmina para a síntese de ceruloplasmina. Normalmente, o cobre está presente na estrutura de diversas enzimas e ligado à proteínas plasmáticas como a ceruloplasmina. Sua eliminação do organismo humano se dá através do metabolismo hepático com subsequente excreção na bile.

Nos pacientes com DW, o acúmulo e a deposição do cobre nos tecidos ocorre devido a incapacidade do fígado em excretar o cobre para a bile e, dessa forma, o metal não pode ser incorporado adequadamente à ceruloplasmina. Conseqüentemente, o cobre em excesso, cobre livre (não ligado à ceruloplasmina), se acumula, com o passar dos anos, no cérebro, fígado, rins e olhos.

Suas principais repercussões hepáticas são a hepatite crônica ativa, hepatite fulminante e cirrose. Os sintomas neurológicos mais comuns são demência (perda da capacidade intelectual), psicose (alteração comportamental), alterações da deglutição e fala, movimentos anormais, como tremores e contrações anormais (distonias), redução da velocidade dos movimentos e incoordenação motora. O acúmulo nos rins pode levar a lesão tubular renal com hiperaminoacidúria, hiperfosfatúria, hipercalcíuria renal e hiperuricosúria. Pode ocorrer anéis de Kayser-Fleischer (depósito de cobre na membrana de Descemet da córnea). A hemólise (anemia devido à destruição das hemácias) está presente somente em casos graves.

 

Devemos suspeitar de DW em todo paciente com menos de 40 anos que apresente:

- Hepatite crônica ativa sem causa aparente/ aumento de transaminases

- Cirrose hepática sem causa aparente

- Anemia hemolítica na presença de hepatite aguda

- Distúrbios inexplicados do sistema nervoso central (distonia e alterações de personalidade)

 

O diagnóstico para essa doença hepática pode ser feito através da avaliação clínica, exames laboratoriais e história familiar.

- Aumento na dosagem de cobre na urina de 24h (>100mcg/d);

- Redução dos níveis de ceruloplasmina: níveis séricos baixos são encontrados em 90% a 95% dos pacientes. Por outro lado, 20% dos heterozigotos têm níveis séricos baixos de ceruloplasmina, mas não evoluirão com a doença. Valores baixos também são encontrados em outras situações com perda de proteínas renais ou entérica acentuada, em síndromes de mal absorção ou na doença hepática terminal grave de qualquer etiologia;

- Cobre sérico total baixo: reflete o cobre sérico ligado à ceruloplasmina;

- Anel de Kayser-Fleischer: é visto quando há manifestações neurológicas. Por outro lado, quando há lesão hepática, está presente em 55-70% casos;

- Ressonancia de crânio: se sintomas neurológicos;

- Em alguns casos é necessário biópsia do fígado para avaliar acúmulo de cobre hepático.

 

O tratamento é baseado em medicações que reduzem o acúmulo de cobre nos órgãos, sendo que devem ser utilizadas pelo resto da vida. Pode-se utilizar quelantes que aumentam a excreção de cobre como a D-penicilinamina e Trientine (nas doenças hepáticas) ou bloqueadores da absorção de cobre pelo trato intestinal como o Acetato ou Sulfato de Zinco (nas doenças neurológicas).

Em casos severos, pode ser necessário um transplante de fígado.

 

Se a Doença de Wilson é diagnosticada e tratada de forma apropriada, os indivíduos podem ter uma vida com boa qualidade, sintomas reduzidos e com duração normal. Se não tratada, ela leva a lesões graves no cérebro e fígado.

 

 

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