HEMOCROMATOSE

 

 

   A Hemocromatose Hereditária (HH) é uma desordem genética caracterizada por uma desregulação da absorção de ferro intestinal, com subsequente depósito de quantidades excessivas de ferro em órgãos como o fígado, o coração e o pâncreas ou em órgãos endócrinos.

 

   O controle da quantidade de ferro em nosso organismo é basicamente dependente da absorção intestinal do mesmo. Não temos nenhum mecanismo fisiológico para eliminar o ferro se ele estiver em excesso, além de controlar a absorção e depender da perda mínima decorrente da perda de células, como células intestinais e sangue durante a menstruação.

    Na hemocromatose hereditária, mutações genéticas (geralmente transmitidas de pais para filhos) levam a um aumento na absorção do ferro no intestino (duodeno e jejuno proximal), o que leva ao acúmulo do metal no organismo.

    Desde a descoberta do gene HFE, que regula a absorção de ferro, duas mutações nesse gene foram descritas e são responsáveis pela maioria dos casos de hemocromatose hereditária: a C282Y e a H63D.

Tal desordem afeta entre 4 a 10 homens para cada 1 mulher e os primeiros sintomas costumam manifestar-se entre os 40 e 60 anos de idade, quando o acúmulo progressivo de ferro inicia a lesão de órgãos.

A suspeita diagnóstica ocorre quando o exame de sangue mostra níveis elevados de ferritina e saturação de transferrina e pode ser confirmado pela presença de mutação genética e ressonância ou biópsia hepática com sobrecarga de ferro hepático.

 

 

Devem ser investigados para Hemocromatose

 

 

- Parentes de primeiro grau de pacientes com HH;

- Elevação de f erritina e/ou saturação de transferrina; 

- Alteração de enzimas hepáticas de causa desconhecida;

- Doença hepática crônica sem causa conhecida;

- Pacientes com porfiria cutânea tarda;

- Condrocalcinose bem definida;

- Carcinoma hepatocelular;

- Diabetes mellitus tipo 2 com hepatomegalia, alteração de enzimas hepáticas ou doença cardíaca

 

 

As manifestações clínicas mais comuns são o cansaço, dores articulares, dor abdominal inespecífica, alteração da cor da pele (“cor de bronze”) e sintomas relacionados ao Diabetes Melitus, como sede e fome exacerbadas. Pode evoluir com cirrosehepatocarcinoma, insuficiência cardíaca ou diabetes.

 

O tratamento mais comum é a sangria terapêutica, que é como a doação de sangue, com a diferença de que o sangue é descartado após a coleta. As células vermelhas do sangue contém hemoglobina, da qual o ferro é componente importante. Com a retirada periódica de sangue ocorre o deslocamento do ferro depositado nos tecidos para a formação de novas moléculas de hemoglobina, até que não há mais excesso. Depois são realizadas novas flebotomias em intervalos variáveis procurando manter o valor de ferritina sérica menor ou igual a 50 ng/ml.

Existe tratamento medicamentoso com quelantes de ferro que são poucos utilizados pelos efeitos colaterais.

 

Ainda, vale ressaltar que os pacientes acometidos pela HH possuem alto risco de desenvolverem cirrose hepática e, consequentemente, o câncer de fígado, podendo necessitar de transplante hepático.

 

Além da hemocromatose hereditária pode haver sobrecarga de ferro secundária em outras situações clínicas:

 

 

 CAUSAS DE SOBRECARGA DE FERRO

 

* Hemocromatose Hereditária

Associada ao HFE (tipo 1)

C282Y homozigose

C282Y/H63D heterozigose composta

- Não associada ao HFE

Hemocromatose juvenil (tipo 2)

Mutação hepcidina (2A)

Mutação hemojuvelina (2B)

Hemocromatose tipo 3 (mutação do receptor 2 da transferrina)

Mutação da ferroportina tipo 4 (hemocromatose autossômica dominante)

 

* Sobrecarga de ferro adquirida (secundária)

- Anemias carregadoras de ferro

- Talassemia maior

- Anemia sideroblástica

- Anemia hemolítica crônica

- Sobrecarga parenteral de ferro (incluindo politransfusão)

 

* Outras causas (raramente no grau observado na HH)

- Hemodiálise prolongada

- Hepatopatia crônica

- Hepatite C

- Hepatopatria alcóolica

- Esteatohepatite não alcóolica

- Porfiria cutânea tarda

- Síndrome da sobrecarga de ferro dismetabólica

- Aceruloplasminemia

- Atransferrinemia congênita