Quando é necessário um Transplante de Fígado?

 

 

Qualquer pessoa com insuficiência hepática ou cancer primário de fígado pode ser candidato ao transplante hepático, depois de esgotadas todas as demais alternativas de tratamento clínico e cirúrgico. O transplante de fígado é claramente justificado em doenças hepáticas que apresentam grave comprometimento à saúde do paciente e redução da qualidade e expectativa de vida. cuja progressão da doença hepática se não transplantado, resulte em mortalidade que exceda aquela decorrente do próprio transplante.

Entre as principais indicações de transplante estão: a cirrose descompensada e/ou com MELD elevado (que pode ser por hepatite viral B e C, esteatose hepática, hepatite auto-imune, hepatite causada pelo álcool ou medicamentos, colangite esclerosante, colangite biliar primária, hemocromatose) e os tumores hepáticos (principalmente o hepatocarcinoma) além da insuficiência hepática aguda fulminante.

 

 Para indicar o transplante de fígado o paciente precisa ter indicação clínica para transplante conforme a Portaria No 2600 de 21 de outubro de 2009; estar com os exames atualizados; ter realizado avaliação clínica e de toda equipe interdisciplinar do Núcleo de Transplante Hepático (hepatologia, cirurgia, anestesia, cardiologia, pneumologia, odontologia, enfermagem, nutrição, psicologia, assistente social, fisioterapia) e outras especialidades, a critério da equipe; e estar há mais de seis meses sem ingerir bebida alcoólica;

 

Entretanto, pessoas que sofrem de doenças sistêmicas que possam colocar a sua vida em risco, como: infecção extra-hepática não controlada, doença cardiovascular ou pulmonar ou neurológica avançada pré-existente, metástases de tumores malignos, colangiocarcinoma de grandes dutos, doença alcoólica com menos de 6 (seis) meses de abstinência e polineuropatia amiloidótica familiar avançada grau IV não podem realizar o transplante de fígado, conforme a Portaria Nº 541, de 14 de março de 2002.

 

 

COMO FUNCIONA A FILA DE ESPERA PARA UM TRANSPLANTE

 

Quando a única alternativa de tratamento para quem sofre de insuficiência hepática é receber um novo órgão, começa outra etapa: a inscrição no sistema de fila única e a espera. Os dados clínicos inscritos nesse sistema formam o cadastro técnico referente a cada tipo de órgão, parte ou tecido a ser transplantado. A inscrição na lista de candidato ao transplante é feita pelo médico responsável da equipe de transplantes na Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO). A lista única para transplantes obedece a critérios de compatibilidade ABO, morfológicos, cronológicos e de gravidade. Os pacientes são escolhidos através de um programa informatizado do Sistema Nacional de Transplantes que indica os receptores mais adequados, segundo critérios previamente definidos. Cada inscrito pode acompanhar sua posição na lista junto à Central de Transplantes do Estado. A cada vez que surge um doador a Central de Captação de órgãos é informada e processa a seleção dos possíveis receptores para os vários órgãos. Esta seleção leva em conta a compatibilidade de tipo sanguíneo e sistema ABO, compatibilidade anatômica (peso e altura), clínica e sorológica do doador e gravidade (MELD-Na e/ou situação especial), além do tempo de espera para o transplante. 

 

O MELD (Model for End Stage Liver Disease) estima a gravidade do quadro e as chances de sobrevida em 90 dias de candidatos ao transplante a partir de quatro variáveis laboratoriais: o RNI (derivado do tempo de protrombina), o nível de bilirrubinas, a função renal estimada pelo nível de creatinina e o sódio. O resultado vai de 6 a 40, sendo que quanto maior o escore, maior a gravidade e pior o prognóstico. O ordenamento dos candidatos em lista obedece o valor do MELD, em valor decrescente. Assim, aquelas pessoas com maior urgência para o procedimento, que não podem aguardar muito, são transplantadas primeiro. Isto faz com que nem sempre o mais antigo (o que chegou primeiro na fila) fique em primeiro lugar. Outras vezes o receptor que foi selecionado em primeiro lugar pode não estar momentaneamente em condições de receber um transplante, em consequência de complicações clínicas ou por não ter sido localizado, não querer ser transplantado naquele momento, etc. 

Portaria do MELD: Nº 1.160 de 29 de maio de 2006. (www.anvisa.gov.br/legis) e PORTARIA Nº 2.049, DE 9 DE AGOSTO DE 2019. 

 

Algumas situações especiais, consideradas urgentes, como os casos de insuficiência hepática aguda grave ou a necessidade de re-transplante em pacientes transplantados recentemente com não funcionamento primário do fígado ou trombose da artéria do novo fígado têm prioridade na lista de espera. Além disso, existem situações especiais em que os candidatos ao procedimento são graves e podem não ter um valor elevado do MELD. Neste caso, a chance de má evolução enquanto listados seria grande, pois demorariam muito a receber um novo fígado devido ao valor baixo do parâmetro. Para corrigir esta discrepância é concedida uma pontuação extra, especial, que visa equipará-los a pessoas com prognóstico semelhante considerando-se o valor do MELD. Recebem pontuação de MELD 20 as seguintes situações especiais, conforme artigo 89 da Portaria No 2600 de 21 de outubro de 2009: tumor neuroendócrino metastático irressecável com tumor primário já retirado e sem doença extra-hepática detectável, hepatocarcinoma com diagnóstico baseado nos critérios de Barcelona,  polineuropatia amiloidótica familiar, síndrome hepatopulmonar, hemangioma gigante irressecável, hemangiomatose ou doença policística com síndrome compartimental, carcinoma fibrolamelar irressecável e sem doença extrahepática, hemangioendotelioma epitelióide primário de fígado irressecável e sem doença extra-hepática, adenomatose múltipla bilobar extensa e irressecável e doenças metabólicas com indicação de transplante: fibrose cística, glicogenose tipos I e IV, oxalose primária. As seguintes situações especiais poderão receber pontuação especial de MELD 20 mediante parecer da Câmara Técnica Estadual (CTE): ascite refratária, colangites de repetição (em colangite esclerosante primária, por exemplo), encefalopatia hepática cronica, prurido intratável (em doenças colestáticas, como por exemplo colangite biliar primária)

 

O candidato ao transplante pode acompanhar sua posição na fila através de um número chamado RGCT (Registro Geral da Central de Transplantes), que é dado na ocasião da listagem.